02/05/2016

19. Holidays


Ela era a estrela e eu a irmã perdida.
Selena

Eu fico imaginando como deve ser a vida de outra pessoa. Pois eu sempre julguei a minha como uma completa merda e até pensei em encurta-la mais vezes do que deveria. É natural ter este tipo de pensamento sobre a própria vida? Não como um tipo de revolta adolescente ou um chamar de atenção, mas como uma reflexão séria. É normal? É apenas na minha família que temos todo esse rancor, ódio e tristeza?
Daí eu penso no Steven. No caos que ele é. Pais jovens e superficiais demais, sempre ausentes, colocando tudo acima dele. E quando ousam aparecer para algo, querem bancar a autoridade. Quem eles pensam que são? Eu vejo Steven se destruir a cada dia, se refugiando em coisas ilícitas querendo esquecer a realidade aonde vive sem amor. Eles não ligam para porra nenhuma que o envolva, mas quando se trata de sustentar as aparências, eles estão lá.
Ao menos, eu tenho Laura e Demetria. Elas podem me irritar e partir meu coração toda vez, mas o meu sentimento é inegável. Mas com Arthur parece que nosso vinculo fora quebrado com o divórcio. Ele não se separou apenas da Laura. Éramos tão próximos, o rei e a sua princesinha... Só o pensamento de que ele escolheu estar com outra pessoa, me faz querer chorar. Acho que não sei lidar com o segundo lugar. E se tem algo que eu aprendi, é que eu não preciso ser a princesinha de ninguém, além de mim mesma.
Agora eu estou aqui, sendo obrigada a comemorar e distribuir sorrisos falsos para os amigos de Sidney nesta noite gelada e natalina. Ela havia dado uma festa para os amigos mais íntimos dela e do Arthur. Não havia nada mais entediante. Eu estava sentada no sofá da sala, em frente à lareira para me aquecer, enquanto tomava um vinho escondido.
— Selena! — Demi tocou meu ombro, sua mão estava fria, pois ela vinha do lado de fora. Dylan, ao seu lado, sorriu para mim e foi em direção à cozinha. Eles estavam juntos fazendo alguma coisa. — Mamãe está ligando, vamos falar com ela.
Ah sim! Era o primeiro natal que passávamos sem a Laura. Mesmo que no anterior, após a ceia, eu tenha fugido para beber com Steven.
Passamos por todas aquelas pessoas que eu não dava a mínima e subimos a escada para o quarto que dividíamos para poder falar com mais privacidade. Assim que entramos, eu fechei a porta e Demi ligou para Laura, uma chamada em vídeo.
— Olá meus bebês! — Laura nos cumprimentou sorrindo.
— Mãe! — Demi disse com entusiasmo.
— E aí! — minha irmã olhou para mim com uma careta, mas logo sorriu ao olhar a tela de seu celular.
— Como a senhora está? Como vai passar o Natal? Eu sinto tanto a sua falta! Está muito calor ai? Como estão os doentes? Está sendo uma boa experiência? Eu...
— Demi querida, respire um pouco. Irei responder todas as suas perguntas, está bem? Temos tempo. — Laura deu aquele sorriso brilhante novamente. — Eu estou bem sim, estou lidando com crianças e elas são tão adoráveis... Como vocês estão? A escola?
Demi começou a falar de novo.
— É um nível difícil, sabe? É um colégio de elite. As dificuldades aumentaram, eu até planejava entrar para a banda do colégio, mas não sei se conseguiria administrar meu tempo. Mas está sendo uma experiência agradável.
— Se você se organizar, pode muito bem tentar entrar na banda, Demi. Nada lhe impede. Mas que bom que está se adaptando. E você? — eu sabia que elas estavam olhando para mim.
— De boa. — disse, brincando com uma mecha do meu cabelo.
— Você ao menos poderia fingir que está interessada nessa conversa. — o tom de Laura foi um pouco duro. Merda!
Esse orgulho não vai te levar a lugar nenhum, Selena!
— Tanto faz! Quando você vai voltar? — revirei os olhos.
Eu não consigo ceder tão fácil assim. Laura demorou um tempo para responder.
— No início de março.
Cacete! Ainda faltava muito tempo. Após isso, observei elas conversarem animadamente no canto da cama e tentei fingir para mim mesma que isso não doía.
— Eu sinto sua falta, mãe! — Demi sussurrou triste.
— Eu também, querida. Mas logo iremos nos ver. — algumas vozes ao fundo chamavam o nome de Laura. — Tenho que ir agora. Tenham um ótimo Natal! As duas...
— Feliz Natal, mãe! — Demi sorriu.
— Feliz Natal! — eu sussurrei e não tenho certeza se ela me escutou.
— Qual é o seu problema? — Demetria perguntou meio agressiva, assim que terminou a ligação.
— Eu também não sei. — respondi e senti vontade de chorar.

***

Após a ligação de Laura, fomos obrigadas a descer novamente. Demi e eu não conversamos mais sobre o assunto. Todos os amigos de Sidney estavam espremidos na sala, todos os rostos desconhecidos com quem eu tinha que passar um feriado familiar. Procurei por Dylan e me sentei ao seu lado. Eu estava me sentindo extremamente incomodada com as piadas internas que todo riam e eu não. Já posso dizer que este foi o pior Natal?
— Que tá rolando? — perguntei a Dylan, sussurrando mesmo sem saber o motivo.
— Amigo secreto! — ele respondeu no mesmo tom de voz que eu.
Ela não poderia ter sido mais original...
O Jogo continuou por mais algumas horas. Arthur estava sentado junto com Sidney no sofá, eu nunca o vi sorrir tanto. Como ele podia estar feliz?
Algo vibrou no meu bolso e era o meu ipod. Estava com ele para tirar umas fotos com o gorro de papel Noel que roubei do Dylan, me esqueci de deixar no quarto. Fiquei surpresa, pois era uma chamada via facetime com o Steven e ele odiava essa coisa. Guardei o ipod no bolso, ainda sem atender a chamada e saí discretamente da sala, apesar de que eu vi os olhares de Demi em mim.
— Steven? — atendi assim que me tranquei dentro do banheiro do segundo andar.
— Sel? — algo em sua voz, estava diferente e isso fez meu peito doer. Eu não conseguia vê-lo, a câmera filmava o teto.
— Sim... Você pode aparecer? — falei em um tom de voz suave. Houve um tempo de hesitação, até que ele falou seguido de um suspiro.
— Eu não quero!
Havia algo.
— E por que não?
— Desculpa por ter sido grosso com você... Da última vez. Eu não estava sendo eu mesmo no momento. E desculpa por só te procurar agora, mas é que... — ele parou de falar novamente, comecei a ficar nervosa.
— Steven? O que é?
Meu coração começou a bater forte.
— Fala comigo, por favor!
Silêncio.
— Steven-
— Eu não estava em casa na hora. Meu pai chegou de viagem e... Ele achou que tinha o direito de vasculhar o meu quarto... Eu não sei como, mas ele achou heroína e pó... Quando eu cheguei, ele me mandou ir ao escritório dele... Ele me bateu. Socou o meu olho e partiu a minha boca. Falou que não iria aturar filho drogado. Eu me descontrolei e soquei ele também... Isso só piorou tudo. Eu acordei no hospital com o rosto inchado e roxo... Não quero que me veja assim.
Eu nem notei, mas eu já estava chorando. Eu não conseguia respirar, encarei o chão, sem palavras.
— Ste... Quando... Isso aconteceu?
— Ontem de manhã. Ainda tá doendo para caralho. E ele... falou que vai me internar... No início de janeiro. E-eu, eu não quero ir Sel... Eu não... Eu preciso de você aqui! Eles estão dando uma festa lá embaixo com os amigos e me trancaram no quarto. Disseram que não queriam passar mais vergonha. Eu me senti sozinho, ai eu te liguei... Fica aqui comigo, por favor... — sua voz estava contida e chorosa.
— Eu... — respirei fundo e limpei as minhas lágrimas com a mão. — Quero te ver!
— Não! — ele gritou.
— Steven-
— Selena? — porra! Demi batia na porra da porta do banheiro. — Selena, eu sei que você está ai dentro! Abre a porta!
— Sel?
— Selena, já está na hora da ceia. Estão todos de procurando! Não é hora para sua criancice agora.
— Sel?
— Steven, olha eu já te ligo está bem? Fique bem! Eu te amo! Eu vou te ligar de novo, está bem? — desliguei quando ouvi um murmúrio “okay”.
Abri a porta, Demi estava de braços cruzados me encarando séria.
— Mas que porra?! Não posso mais ficar sozinha, não?
Ela respirou fundo.
— Eu não quero me irritar com você no Natal! Já bastou aquela ceninha ridícula com a Laura! Vamos descer, já está na hora.
— Não! Eu tenho uma coisa importante para fazer agora.
— Eu estou pedindo, vamos tornar esta noite algo suportável?
— Eu não vou.
— Selena, vamos descer agora!
— Eu já disse que não vou. Se você quer brincar de família feliz, faça isso sozinha! — gritei, sem me importar se nos ouviriam lá embaixo. Ela não disse nada e me deixou ir. Desta vez, eu me tranquei no quarto. Havia alguém que precisava de mim agora.

***

Não sei a que horas eu fui dormir ontem à noite, mas Demi não me incomodou mais. Fiquei conversando com Steven por horas e eu acho que consegui fazer com que ele se sentisse melhor. Meu coração doeu por eu não estar com ele nesse momento. Eu passei por isso também e apesar de todo o drama, Laura nunca chegou a me bater. O engraçado é o quão hipócrita o pai de Steven é, ele mesmo utiliza lsd às vezes no trabalho para estimular o processo criativo, e julga o filho pelo mesmo? Tudo bem que as razões podem ser distintas, mas ainda assim, estamos falando de droga.
Eu já estava acordada há um tempo e só tive coragem de levantar quando Arthur bateu na porta, nos acordando e pedindo para descermos. Eu queria dizer não, mas era Natal! Não tava a fim de brigar com ninguém e o lance do Steven me deixou muito mal.
Estávamos todos reunidos na sala, ao redor da árvore de natal carregada de presentes. Arthur mantinha um sorriso em seu rosto, talvez satisfeito. Revirei meus olhos.
— Hum... Selena? Sua irmã disse que não estava se sentindo bem ontem e por isso não participou da ceia. Você já está melhor?
— Ela disse é? — olhei para Demi, mas não me olhou de volta. Não falei mais nada, após isso.
— Bem, seus presentes! — Arthur sorriu e caminhou até a árvore de Natal. Ele retirou duas caixas de presente, uma extremamente grande e outra menor, e uma sacola grande também. — Confesso que tive dificuldade em escolher o presente de vocês duas, até recorri a Laura. Mas, espero que vocês gostem... Dylan!
Ele entregou a Dylan a sacola grande que a abriu logo em seguida, boquiaberto.
— Uau! — ele tirou item por item, aparentemente era uma coleção de Star Wars; dvds, pôsteres, bonecos e um sabre de luz.  Ele era bem fanzão. — Obrigada mesmo, Arthur! — Dylan sorriu, brincando com seu sabre de luz. Sidney olhava a cena com um sorriso idiota e uma xícara de chocolate quente em mãos.
— Não há de que... Demi! — ele entregou a caixa grande a ela, que aceitou sem hesitar. — Você foi um pouco mais complicada, mas já que gosta de arte, achei que gostaria de conhecer alguns artistas populares de L.A.
Era um quatro mediano, não sei dizer se era desenho ou pintura, mas era o rosto de uma menina e seu cabelo longo, foi desenhado a traços finos e tinta preta; ela tinha pontinhos nas bochechas e fazia um bico estranho. Seu olhar era intenso. O que eu não entendi foram as mãos desenhadas em seu rosto e cabelo, a única coisa colorida na figura.
— Nossa! É intrigante, obrigada! Eu adorei mesmo.
— E Selena... Talvez você esteja precisando disso. — me entregou o último pacote pequeno. — Quero que entenda que ninguém quer tirar sua liberdade aqui. Muito pelo contrário. Aqui não é uma prisão.
Eu abri. Era um celular, o último modelo do iphone que lançou recentemente. Não respondi nada, forcei um sorriso. Ele estava tentando me comprar com presentes e frases feitas. De qualquer forma, aceitei o presente.

***

Estávamos só nós dois em sua sala que ele tinha em casa para trabalhar. Sentei-me na cadeira, mas só por que eu estava cansada. Eu não o olhei, estava entediada, encarando o teto branco. Arthur pigarreou, mas minha atenção não se desviou para ele.
— Tudo bem! Eu mereço isso. Mereço sua hostilidade, seu ódio, seu silêncio e tudo mais o sentir por mim. Mas eu ainda sou seu pai, Selena! Reconheci meu erro e quero mudar! Aproveitar que está aqui para recuperar esses anos que me escondi, por culpa. Mas você acha mesmo que é a única que se machucou? Sua irmã também, mas ela está aprendendo a perdoar. Por que não faz o mesmo? — ele disse, quase sem respirar. Finalmente o olhei, cruzando meus braços e da forma mais irônica possível, eu disse:
— Papai, ouça... — respirei fundo e mudei meu tom, fui grossa. — Não me compare com a Demi! Eu não sou ela!
Ele passou a mão nos cabelos, suspirando e sentou-se em sua cadeira, do outro lado da mesa.
— Eu sei... Eu sei Selena, o que estou dizendo é que vocês passaram pelas mesmas coisas... Por que reações tão diferentes?
— Não Arthur... Mentira! Você não sabe de nada! Não sabe o que aconteceu quando nos jogou fora. Eu me tornei o tipo de garota indefesa, chorona, uma doente depressiva. E sabe quem a Demi se tornou? A garota brilhante, prodígio, perfeita. Ela era a estrela e eu a irmã perdida que não conseguia superar a separação dos pais. Sabe o que me perguntavam? “Por que você não consegue parar de chorar?”, “Faça parar de doer, tenha força de vontade.”, “Não se vitimize.”... Então não ouse nos comparar, pois se existe algo que temos igual, é só o aniversário. Eu nunca serei ela e a dor dela nunca será minha.
Arthur me encarou, sem palavras. A raiva me consumiu, comecei a gritar, cuspindo as palavras que tanto desejei dizê-lo. Eu chorava de raiva, de dor, de cansaço, de culpa.
— Selena... — Arthur levantou de sua cadeira e tentou me tocar. Ai eu me descontrolei.
— Eu também não sei, tá legal? Eu não sei por que eu não consigo fazer parar de doer. Eu não sei como parar de chorar. Eu não sei como perdoar. Eu não aguento mais viver nessa casa e fingir que está tudo bem! Você acha que olhar para você é fácil? Desculpe, mas eu não sou capaz de fazer isso. Demi pode até ta aprendendo a te perdoar. Mas eu não. Até por que eu nem sei como.

***

Nesses seis dias que se passaram não aconteceu muita coisa. Passei a maior parte do tempo em casa e até estudei, conversei com Steven pelo meu novo celular que ganhei no Natal e foi isso.
Se eu estivesse em Nova Jérsei, hoje no dia de ano novo, iríamos eu, Laura e Demi para Nova Iorque assistir a descida da bola da Times Square. Seria divertido, mas, sinceramente, eu não to a fim de fazer porra nenhuma nesse ano novo. Minha contagem regressiva é outra totalmente diferente.
Um mês já se passou. Faltam apenas dois. Sinto que tudo fica mais insuportável e minha relação com Arthur se encontra ainda mais fragilizada. Ele tenta consertar as coisas, eu teimo, dou as costas e continuo na mesma. Gostaria de por um fim nisso, de verdade. Seria tão mais fácil falar para ele “Está tudo bem, eu estou bem!”. Mas minha realidade não é assim.
É como se eu debatesse o mesmo assunto todos os dias. Estou cansada.

***

Estávamos eu e Demi estudando no quarto. Eu fingi não notar os olhares que ela me lançava e sua tentativa de falar algo. Ela estava me encarando agora, com a boca aberta. Se ela quer dizer algo, por que não diz logo?
— Selena? — começou...
— Sim?
Ela ficou em silêncio.
— Arthur veio conversar comigo sobre a discussão que vocês tiveram há duas semanas... Ele acha que nós temos alguns problemas para resolver.
— O que? — olhei para ela, quase rindo.
— Ela me contou tudo... O que você disse sobre mim... — ela largou o livro de História no colo e respirou fundo. — É isso o que você pensa de mim? Sério?
— Não é o que eu penso. É a realidade! — rolei meus olhos, aonde ela queria chegar com esse assunto?
— Saiba que você está errada, está bem? Não foi fácil para mim não. Focar nos estudos foi a solução que eu encontrei para superar todo esse drama. Os elogios e a atenção foram somente resultados da minha dedicação. O que você queria? Que lhe parabenizassem por saber qual veia cortar para sangrar o suficiente e não morrer? Pelo amor de deus, você está errada em pensar essas coisas de mim. Da mesma forma em que estou errada em pensar estas coisas de você. Eu não entendo você e você não me entende. Isso é errado! Deveríamos passar por isso juntas, dando forças uma a outra e não disputando quem sofreu mais. Não conversamos... você não confia em mim? Nós somos irmãs, Selena. Nossa relação não deveria ser assim. Isso é algo que eu quero mudar, de verdade. É a minha meta de ano novo. Eu te amo. Não quero ficar odiando você.

Is it too late now to say sorry? 
olha, eu realmente não achei que fosse demorar meses para postar esse capítulo, mas pensem na quantidade de coisas que aconteceram comigo: tive prova, testes, bloqueios, rolou umas brigas que me deixaram bem triste mesmo. Sempre entrava aqui para escrever algo, mas desanimava. E sem contar que a ideia em si desse capítulo já seria fazê-lo bem grande (para o meu normal) por que abordaria dois feriados e ninguém merece capítulo de natal e ano novo separados né mores, mas acabou que eu não consegui pensar em nada para o ano novo, então vamos fingir que esse feriado não existe q
selenators, o que acharam de kill em’ with kindness como single? Eu sou sober fã e não aceito o hino sendo injustiçado ~sobs
capítulo repostado, pois não estava aparecendo no feed
amo tanto essa mulher ♡